A Função das Ordens Escritas
Na Educação da Sua Vontade
 
 
Jean des Vignes Rouges
 
 
 
 
 
Um costume militar manda apresentar-se todos os dias ao seu oficial superior, numa sala especial – a mais bonita do quartel – para receber ordens e instruções. É um bom hábito: então, adote-o.
 
Onde estará, para você,  esse líder vigilante? Estará no seu “caderno da vontade”.
 
Só o fato de comprar um belo caderno, bem encadernado, marcará quase solenemente e com alegria o início de uma nova era: uma era durante a qual você trabalhará metodicamente na educação da sua própria vontade. Este objeto materializará a sua promessa, o seu compromisso.
 
Neste caderno você anotará muitas coisas, como eu lhe recomendo com frequência: suas decisões, a lista de suas falhas, que você deve combater, a lista de virtudes a adquirir por ordem de importância, os princípios nos quais você se apoiará, os axiomas que deve memorizar, “palavras-chave”, as fórmulas de autossugestão, as citações, os textos, as perguntas como por exemplo “Estive calmo hoje?”. Depois das perguntas você colocará um sinal de “mais” (+) ou de “menos” (–), dependendo da sua avaliação.
 
Você anotará também, em poucas palavras, o resultado dos seus exames de consciência e as firmes promessas que se seguem a cada um deles.
 
Todo esse material será, é claro, dividido, com cuidado, em capítulos e parágrafos.
 
Pontualmente, a cada dia, tenha como obrigação reler uma ou duas páginas do caderno. Você terá assim a impressão de voltar à presença do seu “coronel” para estudar as suas ordens e cumpri-las da melhor maneira possível.
 
Na verdade, este “coronel”, este “regulamento”, este “livro de vontade”, é a voz da sua consciência, que, como você sabe, é feita, em boa parte, de imperativos sociais. Portanto, a sua autoridade é grande. Quando você adquirir o hábito de “re-examinar as instruções”, o seu caderno se tornará um símbolo de prestígio; ele evocará as punições e as recompensas. Ele será o seu “regulamento sacrossanto”.
 
Por outro lado, este procedimento tem a grande vantagem de envolver mais ativamente a sua memória visual no processo de autoeducação. Ele é, em resumo, o equivalente ao “quadro” utilizado nas salas de aula das escolas. Sabemos que, segundo os professores mais conceituados, as melhores aulas são aquelas onde se usa mais o quadro.
 
Efetivamente, qualquer ideia colocada durante um tempo maior diante dos olhos dos alunos, em forma escrita ou simbolizada por um desenho, fica enraizada mais profundamente na mente, e ocupa um lugar mais próximo da fase de ação. Parece que o próprio fato de tornar visíveis os símbolos da linguagem já é uma espécie de impulso dado à ideia no sentido de que ela avance para a vida; uma preparação, um treino dos músculos.
 
Preencha, portanto, as páginas do seu caderno da vontade. Quando estiver todo escrito, você comprará outro. Porém, não ponha no lixo o caderno velho. Releia-o com frequência. Ele ainda tem ordens, congratulações e também algumas reprimendas para transmitir a você.
 
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Jean des Vignes Rouges é o pseudônimo literário do escritor e militar francês Jean Taboureau (1879-1970).
 
O artigo “O Caderno da Vontade” está publicado nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde o dia 29 de outubro de 2023. Foi traduzido do livro “Dictionnaire de la Volonté”, Méthode D’Éducation de la Volonté, de Jean des Vignes Rouges, Éditions J. Oliven, Paris, 320 pp., 1945, pp. 54-55. A tradução é de Carlos Cardoso Aveline. Clique para ver o texto original em francês: Le Carnet de Volonté.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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