Em 1839, a República Farroupilha Vê
Um Ponto Fraco na Civilização Ocidental
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
O jornal O POVO de 4 de setembro de 1839, e o Brasão de Armas da
República Farroupilha, com inscrições que expressam o ideal maçônico.
 
 
 
Nem todos percebem uma coisa básica: o tamanho da alma é mais importante que o tamanho físico. A força do espírito é fator sempre decisivo. A força física, nem sempre.
 
Portanto, não nos enganemos com as grandes capitais.
 
Os pequenos países e as pequenas cidades fazem a diferença para melhor, especialmente quando sua visão histórica é ampla. [1]
 
O êxito dos grandes países depende de eles respeitarem e preservarem as pequenas comunidades em seu interior. Também as grandes cidades devem respeitar cada bairro e cada rua, se quiserem prosperar de modo durável.
 
Um exemplo da riqueza dos pequenos países e das cidades modestas está disponível no ano de 1839. Naquele momento, Caçapava do Sul era a capital da República Rio-Grandense, a República Farroupilha, que existiu durante dez anos, a partir de 1835.
 
Foi um país pequeno no espaço e pequeno no tempo, mas digno de grande respeito. Ao lado de vários maçons de destaque, Giuseppe Garibaldi é um dos maiores líderes da República dos Farrapos. A teosofista Helena Blavatsky foi amiga de Garibaldi e de seus filhos, e lutou junto às tropas de Garibaldi na batalha de Mentana, na Itália, em 1867.
 
Em 1839, o jornal O POVO, de Caçapava, era o principal jornal farroupilha. Em sua edição de 4 de setembro, publicou um artigo que explica em poucas palavras um problema central para todas as nações do Ocidente, amplamente materialistas. No século 21, este desafio talvez seja ainda mais sério do que em 1839.
 
Caçapava  estava olhando na frente. Via não só o presente, mas os germes do futuro.
 
O artigo, intitulado “Crise Moral do Brasil”, foi provavelmente escrito por Evaristo da Veiga. Havia sido publicado pela primeira vez anos antes, no jornal “A Aurora Fluminense”, do Rio de Janeiro. O pequeno jornal revolucionário fez suas as palavras da “Aurora”. Examinemos alguns trechos do artigo de capa do “O POVO”.  Vejamos se não são mais atuais do que nunca na década dos anos 2020:
 
* “Que a imoralidade é a chaga secreta que rói o nosso corpo social; que nós estamos em uma espécie de crise, que tem a sua principal origem no estado deplorável dos sentimentos públicos e individuais, todo o mundo mais ou menos o reconhece; todo o mundo lastima as suas consequências, sente a sua gravidade sempre progressiva, e assinala com um certo assombro do futuro a sua influência sobre a direção que leva o nosso país, desde alguns anos. Mas reconhecendo a origem do mal, nem o governo, nem o país, cumpre dizê-lo, têm feito o menor esforço para retê-lo em seu curso, dando uma solução à crise moral que nos agita.”
 
* “Para o Ministério anterior a questão estava resolvida; tratava-se simplesmente de especular sobre as tristes disposições dos espíritos, de tirar partido de todas as más tendências; enfim de assentar o seu edifício governativo sobre a base mesma da degeneração pública.”
 
* “Em vez de dar outra direção aos sentimentos, honrando-os, pondo em moda a honestidade, o desinteresse [2], o patriotismo, debelando as paixões cúpidas e ignóbeis, esse Ministério fez positivamente o oposto; levou os homens pelo declive suave e escorregadio do egoísmo; e ele mesmo, separando a moral da política, desterrando da arte de governar a verdade de todos os princípios, abriu exemplos que não podiam deixar de agravar ainda mais o estado das ideias.”
 
Qual a alternativa?
 
O POVO adotou como seu lema um axioma do movimento “Jovem Itália”, a que Giuseppe Garibaldi pertencia. A frase resume uma parte fundamental do propósito farroupilha:
 
“O poder que dirige a revolução tem que preparar os ânimos dos Cidadãos aos Sentimentos de fraternidade, de modéstia, de igualdade e desinteressado e ardente amor da Pátria.”
 
Em outras palavras, o poder moral vem antes do poder material. Não basta exigir ética dos nossos semelhantes. É preciso construir ética em nós mesmos, nas nossas comunidades, e fazer com que ela se transmita pela força do exemplo.
 
NOTAS:
 
[1] O Visconde de Figanière faz uma curta e decisiva defesa dos pequenos países no Proêmio da sua obra “A Liberdade e a Legislação”, publicada em Petrópolis, RJ, em 1866, e com 204 páginas. (CCA)
 
[2] Desinteresse: o inegoísmo, a ausência de interesses egocêntricos. (CCA)
 
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O artigo “Lições da Guerra dos Farrapos – 02” está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 13 de setembro de 2023. Uma versão inicial do texto foi publicada, sem indicação do nome do autor, na edição de abril de 2023 de “O Teosofista”, pp. 9-11.  
 
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Leia mais:
 
 
 
 
 
 
* O Rio Grande do Sul e a Ecologia (livro de H.L. Roessler).
 
* Assista ao vídeo “A História Espiritual do Brasil”.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”. 
 
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