Em 1838, o Jornal Farroupilha Define
a Responsabilidade da Mídia Moderna
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Um combatente dos farrapos; a sua bandeira, ao
Centro; e o jornal O POVO, de 1 de setembro de 1838
 
 
 
O pequeno jornal “O POVO”, publicado inicialmente em Piratini e depois em Caçapava do Sul, viveu de 1838 a 1840. Com apenas quatro páginas e saindo duas vezes por semana, foi o principal jornal da República Rio-Grandense; a antiga, ideal e sonhada república farroupilha que até hoje inspira milhões de brasileiros.
 
No seu número 01, de primeiro de setembro de 1838, O POVO faz quase profeticamente a seguinte avaliação e proposta de futuro para os meios de comunicação social:
 
O ofício do jornalista, hoje em dia, por culpa de muitos suspeito, e merecidamente em parte infamado, é ofício santíssimo, quando exercido retamente e se não desvia da sublime e luminosa carreira que os novos destinos da humanidade lhe confia.”
 
Aquele que se propõe a escrever para um Povo, e mais particularmente para um Povo que está para surgir à nova vida, tem que assumir o caráter de sacerdócio; e para que a voz dele soe venerada e cara entre as multidões deve, como a do intérprete de Deus, ser forte, pura e solene. O jornalista, enfim, para não ser inferior nem à sua missão nem à nossa época, deve ser essencialmente ‘Educador’.”
 
Nós, sem nos presumirmos capazes de conduzir dignamente uma tão árdua tarefa, queremos ao menos apontar o nobre fim, ao qual têm que se dirigir os esforços e as miras daqueles que amam sinceramente a Pátria e os homens; e a cujo alvo dirigimos nós também nossas tênues fadigas.”
 
E, agora, perguntamos nós: todos estes jornais sem vida, e sem alvo, a não ser aquele vergonhoso do lucro, verdadeiras torres de Babel onde se vê a soberba e a confusão; e que saem corajosamente para todo o Império a cada dia, não sei se mais para experimentar a constância do que para cansar a excessiva bondade dos assinantes, cumprirão eles à santidade dos seus deveres?”
 
Invejas pueris, litígios pessoais, disputas insolentes de interesses materiais e locais, não liberam [1], não, o escritor público de sua obrigação! Mas a pregação de princípios fecundos, de verdades luminosas e de profundas virtudes, só pode convencer [2] o escritor consciencioso de ter cumprido com a santidade dos seus deveres.”
 
Nós, isto tentaremos fazer, mas, livres e independentes como o cidadão da verdadeira República, queremos concorrer à construção [3] Nacional com o nosso muito diminuto préstimo, porém, sempre com aquele desenvolvimento de ação peculiar e próprio de cada indivíduo.
 
Ao contrário do que pensam os desinformados, estas ideias podem falar mais do futuro do que do passado. Durante as décadas de 2020 e 2030, talvez seja oportuno resgatar a visão clássica e ética sobre o dharma e o dever dos meios de comunicação social.
 
NOTAS:
 
[1] No original, “desagravam”, expressão que no século 21 fica difícil compreender.  Colocamos “liberam”. (CCA)
 
[2] “Só pode convencer…” – no original, “pode só fazer certo…”. Adaptamos a linguagem clássica para tornar a frase compreensível hoje. (CCA)
 
[3] Construção – no original, “edifício”. (CCA)
 
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O artigo “Lições da Guerra dos Farrapos – 01” está disponível nos websites da Loja Independente de Teosofistas desde 12 de setembro de 2023. Uma versão inicial do texto foi publicada, sem indicação do nome do autor, na edição de abril de 2023 de “O Teosofista”, pp. 7-8.
 
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Leia mais:
 
 
 
 
* O Rio Grande do Sul e a Ecologia (livro de H.L. Roessler).
 
* Assista ao vídeo “A História Espiritual do Brasil”.
 
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Helena Blavatsky (foto) escreveu estas palavras: “Antes de desejar, faça por merecer”.  
 
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