O Significado Esotérico de
Certas Palavras e Ações na Vida Social
 
 
Helena P. Blavatsky
 
 
 
 
 
000000000000000000000000000000000
 
Nota Editorial:
 
Helena P. Blavatsky tem textos
agudos e irônicos.  O mesmo estilo é
encontrado nas “Cartas dos Mahatmas”.
Uma irreverência cortante serve para
afastar  os perigos da hipocrisia na
busca espiritual. Ao longo dos tempos,
os ensinamentos espirituais têm sido
transformados em dogma,  em rotina, em
rituais vazios,  ou usados para fins de
poder pessoal e abuso da boa vontade alheia.
 
Os estudantes da filosofia esotérica devem
examinar-se regularmente – de modo
individual e também de modo coletivo –
e perguntar-se honesta e sinceramente: “Que
incoerências há em mim, ou em nós? Que
sementes de hipocrisia, e como eliminá-las?”
 
A prática da auto-observação capacita o
aprendiz a vencer os desafios da caminhada.
 
O texto a seguir é traduzido do volume
VIII de “Collected Writings”, H. P. Blavatsky,
TPH, Adyar, Índia (pp. 137-139). Título Original:
“From the Note Book of an Unpopular Philosopher”.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
000000000000000000000000000000000000000000000000000
 
 
 
Mostrar Raiva. Nenhum homem ou mulher “culto” jamais mostrará raiva em sociedade. Controlar e reprimir toda mostra de desagrado é demonstração de boas maneiras, certamente, mas também uma considerável façanha em matéria de hipocrisia e dissimulação. Há um lado oculto nesta regra de boa educação, e ele é revelado em um provérbio oriental: “Não confie num rosto que nunca mostra sinais de raiva, nem num cachorro que nunca late”. Os animais de sangue frio são os mais venenosos.
 
 Não Resistir ao Mal. Jactar-se disso é convidar todos os que são maldosos a abusar de você. Praticá-lo abertamente é levar as pessoas à tentação de vê-lo como um covarde. Não resistir ao mal que você nunca criou nem merece, evitá-lo você próprio e ajudar a outros a  afastar-se dele,  é a única alternativa correta à disposição de  quem ama a sabedoria.
 
“Amar o Próximo”. Quando um religioso faz uma pregação sobre este assunto, sua piedosa congregação a aceita – com uma permissão tácita para caluniar e denegrir seus amigos e conhecidos  que estão sentados nos bancos da mesma  igreja.
 
Fraternidade Internacional. Quando um muçulmano e um cristão juram ter amizade recíproca e se comprometem a ser irmãos, as duas fórmulas deles diferem um pouco.  O muçulmano diz: “Tua mãe será minha mãe, meu pai teu pai, minha irmã tua criada, e tu serás meu irmão”. Ao que o cristão responde: “Tua mãe e irmã serão minhas criadas, tua esposa será minha esposa, e minha esposa será tua querida irmã”. Amém.
 
Valente Como um Leão.  Este é – na aparência – o maior elogio que se pode fazer à coragem de alguém; na realidade, é uma comparação com um animal selvagem que cheira mal. É também um reconhecimento da  superioridade da bravura do animal sobre a bravura humana, considerada como virtude.
 
Carneiro. [1] Um homem fraco, tolo, e simbolicamente um epíteto insultuoso, depreciativo, entre pessoas do mundo; mas um termo bastante elogioso entre religiosos, que o aplicam às “pessoas de Deus” e aos membros das suas congregações, comparando-os com carneiros sob a orientação do cordeiro.
 
Código de Honra. Na França – seduzir uma esposa e matar seu marido. Lá, a honra ofendida só pode ser recuperada com sangue; aqui [2], é suficiente um ferimento causado no bolso do transgressor.
 
O Duelo Como uma Questão de Honra. O duelo é uma instituição do cristianismo e da civilização, e nem os antigos espartanos, nem os gregos ou romanos o conheciam, já que eram apenas pagãos não-civilizados (Veja-se Schopenhauer).
 
Perdoar e Esquecer. “Deveríamos perdoar livremente, mas raramente esquecer”, diz Colton. “Não buscarei vingança, e isto eu devo ao meu inimigo; mas lembrarei, e isto eu devo a mim mesmo”. Esta é sabedoria real e prática. Ela fica entre o feroz lema “olho por olho”, da lei mosaica, e a ordem de oferecer a face esquerda ao seu inimigo, se ele golpear sua face direita. Esta última atitude não é um definido encorajamento ao pecado?
 
Sabedoria Prática. Na árvore do silêncio é que se colhe o fruto da paz. Se você não quer que seu inimigo conheça seu segredo, não o conte a seu amigo (ditado árabe).
 
Vida Civilizada. Repleta, barulhenta e cheia de força vital: assim é a sociedade moderna do ponto de vista material. Mas não há deserto mais imóvel e silencioso, vazio e lúgubre do que esta mesma sociedade para o olhar espiritual daquele que sabe ver. Sua mão direita distribui pródiga e livremente prazeres efêmeros, mas de alto custo, enquanto a mão esquerda  agarra avidamente os restos e frequentemente se nega a atender as necessidades da ostentação.  Toda nossa vida social é resultado e consequência daquele autocrata e déspota chamado Egoísmo. Até a vontade mais forte se torna impotente diante da voz e da autoridade do Eu.
 
NOTAS:
 
[1] Em inglês, “sheep” não significa apenas carneiro ou ovelha, mas uma das principais acepções da palavra é “pessoa tola, estúpida”. Em português, este último significado aparece mais raramente. (CCA)
 
[2] “Aqui” – isto é, na Inglaterra do século 19, onde o texto foi escrito. (CCA)
 
000
 
Sobre o mistério do despertar individual para a sabedoria do universo, leia a edição luso-brasileira de “Luz no Caminho”, de M. C.
 
 
Com tradução, prólogo e notas de Carlos Cardoso Aveline, a obra tem sete capítulos, 85 páginas, e foi publicada em 2014 por “The Aquarian Theosophist”.
 
000