Notas Sobre um Pioneiro do Movimento Teosófico
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
Robert Crosbie (foto) foi um dos pioneiros que tornaram possível
a fundação da Loja Independente de Teosofistas em setembro de  2016
 
 
 
Ao liderar a fundação da Loja Unida de Teosofistas em 1909, Robert Crosbie tomou uma iniciativa histórica que não só possibilitaria a valorização da literatura teosófica original, mas iria garantir a preservação do ponto de vista, da metodologia e do clima de trabalho dos primeiros anos do movimento esotérico moderno.
 
Sua vida e seu trabalho são também uma referência para a Loja Independente de Teosofistas, fundada em setembro de 2016.
 
O pai e a mãe de Crosbie eram escoceses e se conheceram no Canadá. Robert Crosbie nasceu a 10 de janeiro de 1849, em Montreal, recebendo educação presbiteriana. Aos 16 anos, foi convidado a ingressar numa comunidade cristã. Considerou a experiência “inadequada” e desde então adotou uma atitude de constante questionamento diante dos objetivos da vida, do sofrimento, da doença, da morte, da compaixão, da justiça e do destino. Robert concluiu que as religiões ao seu redor não davam respostas satisfatórias a estas questões. Estava decidido a encontrar “a Verdade, que deve ser conhecimento”.[1]
 
Em 1869, aos vinte anos, Crosbie era sócio de uma pequena manufatura de calçados, e casou-se. Devido à morte de uma pessoa amiga, Crosbie interessou-se por espiritismo, hipnotismo, mesmerismo e telepatia.
 
Não muito tempo depois, ele e seu sócio venderam sua pequena manufatura de calçados em Montreal, Canadá, e estabeleceram uma empresa em Boston, nos Estados Unidos.
 
Em 1888, Crosbie ingressou no movimento teosófico em Boston. Pouco depois, conheceu William Judge. Crosbie passou a ser um dos colaboradores mais próximos de Judge, e coordenou grupos de estudos esotéricos em sete estados da região da Nova Inglaterra. 
 
Apenas três anos depois da morte de H. P. Blavatsky em Londres, o movimento que ela fundara desintegrou-se. Annie Besant e Henry Olcott provocaram em 1894-1895 a primeira divisão formal do movimento teosófico, ao promover acusações e uma perseguição política contra William Judge. A meta era obter o poder institucional. Como quase toda a seção norte-americana do movimento, Crosbie apoiou Judge e a teosofia original de H.P.B.,  que Judge defendia.
 
Com a morte de Judge, em março de 1896, iniciou-se uma fase de transição. Em meio a circunstâncias não bem esclarecidas, esta etapa levou ao surgimento de Katherine Tingley como a pessoa que liderava o setor do movimento que era mais leal a H.P.B. As crises eram constantes: o movimento teosófico vivia a dura adequação aos novos tempos sem a presença de Helena Blavatsky.
 
Divorciado desde 1892,  Crosbie casou-se em 1900 com Josephine Parsons, na cidade de Manchester. O casal teve dois filhos.
 
Em 1904, abandonou a Sociedade Teosófica liderada por Katherine Tingley, cuja sede ficava em Point Loma. A sra. Tingley havia deixado de lado por completo a proposta original do movimento teosófico. Em 1907,  Crosbie reuniu alguns teosofistas em torno da teosofia original. Entre eles estava John Garrigues. A meta do pequeno grupo era estudar livros de Judge e de HPB de acordo com as linhas de ação propostas pelos verdadeiros fundadores do movimento. Ao mesmo tempo, apontava para a busca do discipulado.
 
Com base nesta experiência prévia, em 18 de fevereiro de 1909 foi fundada a Loja Unida de Teosofistas, que manteria no futuro um caráter “semiesotérico”. Esta perspectiva, marcada pelo enfoque de uma escola esotérica, explica a prioridade dada pela LUT ao caráter impessoal do trabalho. Suas revistas publicam, tradicionalmente, artigos anônimos.
 
Crosbie e seus colaboradores fundaram a revista mensal “Theosophy” em 1912. Ela surgiu como um instrumento para manter em circulação e tornar conhecidos os textos e artigos de H.P.B. e Judge. A LUT fazia um contraponto em relação ao culto à personalidade dos líderes, que tomava conta da Sociedade de Adyar. A associação surgia pouco a pouco como um espaço em que as personalidades deviam ser esquecidas, para que se pensasse no ensinamento. 
 
Robert Crosbie morreu em 25 de junho de 1919, dez anos depois de fundar a Loja Unida. Três anos mais tarde, em 1922, o indiano B. P. Wadia abandonou a Sociedade Teosófica de Adyar e aderiu à LUT. Este fato fez com que a Loja ganhasse expressão internacional significativa.
 
O Pensamento de Crosbie
 
Robert Crosbie ofereceu uma visão de longo prazo e um método estável aos setores do movimento teosófico que trilham o caminho de autotransformação ensinado por Helena Blavatsky. Erguendo o olhar, ele viu motivos para ser otimista:
 
“Quando adotamos a atitude mental correta – e é nisso que consiste o discipulado – não há uma só qualidade em nós, uma só força, um só atributo, de que não seja feito o melhor uso, e o mais elevado.” [2]
 
A fonte da felicidade é interior, e Crosbie escreveu:  
 
“Lembremos de que ‘a nossa verdadeira natureza’ não está distante. Ela está bem dentro de nós – dentro dos nossos corações.” [3]
 
O fundador da Loja abordava o fenômeno humano nos termos da teosofia original, que coincide com a Raja Ioga e a Jnana Ioga:
 
“Devemos renunciar à ideia de que somos criaturas pobres, fracas e míseras, que não podem fazer nada por si mesmas. Enquanto nos apegarmos a esta visão não poderemos fazer coisa alguma. Devemos adotar aquela outra ideia – de que nós somos Espírito, de que somos imortais. E quando chegarmos a compreender o que isso significa, o poder desta ideia fluirá diretamente em nós e através de nós, irrestritamente e em todas as direções, limitada apenas pelos instrumentos cujas imperfeições foram causadas por nós próprios.” [4]
 
Em 1934, cerca de 15 anos após a morte de Crosbie, John Garrigues publicou um livro reunindo artigos e cartas dele. A obra é um valioso testemunho histórico do trabalho de Crosbie: “The Friendly Philosopher” (O Filósofo Amável), Theosophy Co., Los Angeles; terceira edição, 2008, 416 páginas.
 
Ao lado de Garrigues e outros estudantes, Robert Crosbie fez com que a escola de pensamento fundada em 1875 por Helena Blavatsky renascesse. Mas os fundadores da LUT em 1909 eram apenas sete, o que mostra a força invisivelmente ilimitada de alguns poucos teosofistas que sabem o caminho a seguir e confiam no futuro.  
 
A luz acendida por Crosbie cresceu pouco a pouco, e durou. Só perdeu força, gradualmente, a partir da segunda metade do século 20. Seu exemplo de vida demonstra que em qualquer momento da história um pequeno número de trabalhadores altruístas pode beneficiar silenciosamente a humanidade inteira. Não por acaso em 2016 a experiência original da LUT foi uma das fontes de inspiração para que outros pioneiros fundassem a Loja Independente de Teosofistas.
 
NOTAS:
 
[1] “Robert Crosbie’s Life and Work”, de Dallas TenBroeck. O texto foi escrito em janeiro de 2003. É o principal artigo disponível sobre o fundador da LUT, e dele selecionamos a seguir alguns pontos básicos. “Robert Crosbie’s Life and Work” está publicado em nossos websites associados.
 
[2] “A Book of Quotations”, Robert Crosbie, Theosophy Co., Mumbai, India, 108 pp., ver p. 37. O livro está publicado em PDF em nossos websites associados.
 
[3] A Book of Quotations”, Robert Crosbie, obra citada, ver p. 36. O livro está publicado em PDF em nossos websites associados.
 
[4] “A Book of Quotations”, Robert Crosbie, obra citada, p. 23.
 
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Uma versão inicial do texto acima foi publicada sem indicação de nome de autor na edição de abril de 2010 do boletim eletrônico “O Teosofista”.  
 
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Clique para ver textos de Robert Crosbie nos websites associados.
 
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Em setembro de 2016, depois de cuidadosa análise da situação do movimento esotérico internacional, um grupo de estudantes decidiu formar a Loja Independente de Teosofistas, que tem como uma das suas prioridades a construção de um futuro melhor nas diversas dimensões da vida.
 
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