Pomba Mundo
 
A Edição em PDF de Livro Raro Publicado em 1918
 
 
Almeida Magalhães
 
 
A Reacção Espiritualista com moldura
 
Foto de exemplar da obra de Almeida Magalhães que pertence aos nossos websites associados
 
 
 
Prefácio à Edição Online de 2016
 
A presente edição em PDF reproduz uma obra de 1918, bem escrita, rara, sobre um dos maiores filósofos brasileiros de todos os tempos.
 
O original em papel obtido pelos nossos websites associados está frágil em cada página, de modo que não se tentou apagar os sublinhados a lápis.
 
Almeida Magalhães traça um panorama vivo da luta entre correntes materialistas e espiritualistas no pensamento brasileiro do final do século 19 e das primeiras décadas do século 20.
 
O filósofo cearense Farias Brito (1862-1917) é provavelmente o mais vigoroso filósofo brasileiro. O fato de que seja pouco valorizado neste ou naquele momento não diminui a sua importância. 
 
Precursor do movimento teosófico, Brito seguiu com peso próprio a linha de pensamento espiritualista na ampla tradição de Maine de Biran, Spinoza, Leibniz, Victor Cousin, Schopenhauer e outros. Estudou obras da sabedoria oriental, e propôs uma síntese universalista das filosofias e religiões.
 
Embora fosse católico, Almeida Magalhães teve uma visão filosófica lúcida. O livro “Farias Frito e a Reacção Espiritualista” é um retrato inteligente do cenário filosófico brasileiro de sua época. Defendendo o espiritualismo em sua diversidade contra o conjunto das escolas materialistas, Magalhães desmascara a psicologia mecanicista que se coloca a serviço da fisiologia, porque não percebe a existência no ser humano de uma alma espiritual. [1]
 
Entre as correntes materialistas estão o positivismo e o evolucionismo cientificista. A elas se somaria o marxismo na década de 1920.  Farias Brito foi um pensador independente e desafiou como figura solitária tanto a fé cega do catolicismo como a descrença materialista, igualmente incapaz de enxergar. É considerado por alguns o maior filósofo brasileiro porque construiu um sistema filosófico próprio. Ele o fez na contramão das correntes “filoneístas” (p.27), que adotam com entusiasmo superficial as novidades chegadas de outros países. Para Magalhães, a obra de Brito representa “as inclinações dominantes na alma nacional” (p.107). Ao mesmo tempo, o pensamento britiano é universal, aberto a todas as correntes de pensamento, e influenciado por elas sem mera repetição mecanicista. 
 
A importância de Brito na formação do ethos brasileiro ainda está por ser compreendida.
 
No século 21, prossegue no pensamento do país (como no pensamento português) a necessidade de libertar-se de um falso dilema.
 
De um lado, está o dogmatismo religioso que impede através da crença cega uma compreensão adequada da vida. De outro, o materialismo – filosófico ou simplesmente mercantilista – que nega à vida tudo o que diz respeito à alma.
 
Sendo católico, embora bom pensador e discípulo de Brito, Magalhães procura ignorar as contradições entre o filósofo e a religião dogmática. Traça um retrato idealizado dos espiritualismos todos, em luta contra os materialismos. A verdade é que Farias Brito foi ignorado e boicotado em vida tanto por materialistas quanto por idealistas. O mesmo ocorreu com sua obra depois da sua morte. Por outro lado, foram escritos numerosos livros sobre a  filosofia britiana ao longo do século vinte.
 
Leal para com os fatos, Magalhães escreve:  
 
“O notável pensador brasileiro bem sabia da luta titânica que deveria encontrar em sua pátria. Ele tinha de terçar armas não em polêmica contra outros pensadores, quase todos acostumados à sátira e ao epigrama e que nunca saem a campo para discussões elevadas, mas contra o silêncio, contra o indiferentismo de toda gente. E foi o que sucedeu. Mas aquele espírito cheio de tenacidade e robustez não desanimou, o que bem revela pela sua obra gigante, diuturnamente elaborada durante largos anos, através das maiores asperezas e hostilidades.” (p.28)
 
As páginas 29 e 30 mencionam o interesse profundo de Farias Brito nas religiões orientais. O protestantismo, o teosofismo, o neopitagorismo, o swedenborgismo e o espiritismo estão mencionados à página 105 como exemplos positivos da diversidade do pensamento espiritualista no Brasil.
 
Nas páginas lúcidas da sua obra, Almeida Magalhães faz uma defesa decidida do que há de melhor no Brasil. Seu livro mostra uma histórica contradição fundamental que desafia ainda hoje países como Brasil e Portugal. De um lado temos uma maioria não-pensante desorientada por um materialismo cego. De outro lado está o espiritualismo com discernimento, amigo do pensamento independente e da capacidade de criar o que é bom e o que vale a pena. Neste campo tem destaque o pensamento de Brito.
 
(Carlos Cardoso Aveline)
 
 
 
 
NOTA:
 
[1] Décadas mais tarde Erich Fromm faria o mesmo.
 
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Para conhecer a teosofia original desde o ângulo da vivência direta, leia o livro “Três Caminhos Para a Paz Interior”, de Carlos Cardoso Aveline.
 
 
Com 19 capítulos e 191 páginas, a obra foi publicada em 2002 pela Editora Teosófica de Brasília.
 
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