Ao Invés de Fazer Leituras Mecânicas,
Cabe Desenvolver o Pensamento Próprio
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
 
 
 
Buscando estudar Helena Blavatsky, grupos de pessoas sinceras fazem reuniões para ler este ou aquele livro dela, parágrafo por parágrafo.  
 
A intenção é das melhores. O enfoque, no entanto, é quase sempre ingênuo.
 
O coordenador lê alto umas linhas e faz uma pausa para comentários. Depois lê outro trecho, e faz nova pausa. O conteúdo em geral entra por uma orelha e sai pela outra, mas todos tentam ficar contentes porque “leram Blavatsky”.
 
O evento é parecido com uma missa católica, no sentido de que o sacerdote reza e os outros dizem amém. É como se membros alternados de uma igreja lessem versículos bíblicos fazendo pausas para que todos digam amém, pouco raciocinando. A pobreza simplista desta prática implica uma atitude infantil diante do ensinamento.
 
Uns falam, os outros escutam e memorizam. O problema está longe de pertencer apenas ao movimento teosófico. A passividade durante o ato de supostamente aprender é estimulada em todo o sistema de ensino convencional. Desde a escola primária até o pós-doutorado, a ordem é acomodar-se, imitar, repetir, parafrasear citando a fonte, e fazer de conta que se pensa por si mesmo, construindo uma aparência de intelectualidade espiritualizada.
 
A quase unanimidade cultural do Fazer de Conta, ao nosso redor, permite que uma pessoa que só sabe repetir o que leu, ou só consegue ler a letra morta do que Blavatsky escreveu, pense que é um autêntico “blavatskiano”. Isso se deve ao hábito do pensamento apressado e superficial.
 
A verdade é que o estudo de filosofia esotérica deve seguir um impulso criador e independente, mantendo-se o rumo estável e o método clássico. O ensino precisa transmitir sobretudo sementes de pesquisa, ou possibilidades de busca individual.
 
A concentração da mente e a ausência de pressa permitem ser criativo. No estudo bem orientado, a pluralidade potencial das leituras de textos autênticos é um fato desde o início. Não vale a pena perder tempo com métodos exteriormente uniformes que suprimem a autorresponsabilidade e impedem o aprendizado interior.
 
O verdadeiro estudo é probatório. É inquietante. Rompe a rotina. Requer o uso do discernimento de cada um. Mostra os obstáculos diante de nós.
 
A tarefa de aprender a aprender é um dos primeiros pontos da agenda, para não dizer o primeiro, e deve acompanhar o peregrino ao longo da jornada inteira.
 
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O artigo “Como Não Ler Blavatsky” foi publicado nos websites associados dia 28 de setembro de 2020.
 
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Para ler mais, examine meditativamente:
 
* “A Arte de Ler”.
 
 
 
 
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