Pomba Mundo
 
O Ciclo de Cem Anos e o
Surgimento da Era de Aquário
 
 
Carlos Cardoso Aveline
 
 
O Movimento Teosófico, 1875-2075
 
Netuno (à esquerda) e Urano, os regentes das Eras de Peixes e Aquário
 
 
 
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O artigo a seguir corresponde ao
capítulo 22 do livro “The Fire and Light of
Theosophical Literature”, de C.C. Aveline
(The Aquarian Theosophist, Portugal, 2013).
 
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“Se a luz da Teosofia for preservada como uma
chama clara, ela será a luz salvadora do mundo todo (…).
Mas a questão é: quem vão ser os portadores da luz?”
 
[Robert Crosbie, em “A Book of Quotations”,
Theosophy Company, Mumbai, Índia, p.104]
 
 
 
O sábio imortal e reformador do budismo no Tibete, Tsong-kha-pa (1357-1419), estabeleceu um ritmo centenário no trabalho da Fraternidade de Iniciados que guia a evolução humana. Helena Blavatsky escreveu que entre as determinações de Tsong-kha-pa “há uma que recomenda que os Arhats [1] façam uma tentativa de iluminar o mundo, inclusive os ‘bárbaros brancos’, a cada século, durante certo período do ciclo.” [2]
 
No final do século 14, o próprio Tsong-kha-pa deu o impulso para o primeiro esforço especial. Desde então, o progresso humano tem tido um ritmo centenário de expansão e retração, sístoles e diástoles. Quem observa a história humana pode perceber o processo. Mas o tempo não obedece a um ritmo apenas. Há grande quantidade de ciclos, maiores e menores; e todos eles dialogam entre si o tempo todo.
 
Desde Tsong-kha-pa até o ano 2000 houve sete esforços de final de século. O número sete indica perigo e oportunidade, e significa tipicamente uma mudança no estado de consciência. Não é por mera coincidência, portanto, que o esforço de 1975 a 2000 levou a humanidade aos anos finais da transição entre a era de Peixes e a era de Aquário. [3]
 
A própria H.P. Blavatsky plantou as sementes de expectativa com relação ao que ocorreria no período de 1975 a 2000. E ela fez o mesmo em relação ao século 21.
 
A última frase do seu livro “A Chave da Teosofia” sugere que a Terra será como um Céu no século atual. Em outro lugar, H. P. B. afirmou que a vitória da Teosofia, entendida como ética e sabedoria divina, será alcançada, certamente, antes do final do século 21. [4]
 
E ela anuncia em “A Doutrina Secreta”:
 
“No século vinte, algum discípulo melhor informado, e muito mais adequado, pode ser mandado pelos Mestres de Sabedoria para dar provas finais e irrefutáveis de que existe uma ciência chamada Gupta Vidya; e de que – assim como as nascentes antigamente desconhecidas do rio Nilo – a fonte de todas as religiões e filosofias hoje conhecidas no mundo ficou esquecida e perdida para a humanidade, mas agora é, finalmente, reencontrada.” [5]
 
Cerca de três anos após a morte de H. P. B., William Q. Judge escreveu (em um documento de circulação restrita, datado de novembro de 1894) que o esforço do século 19 era em grande parte uma preparação para o momento futuro em que a própria alma imortal de H. P. B. voltaria ao mundo. Ao mesmo tempo, Judge previu que grandes esforços seriam realizados por forças antievolutivas visando impedir que isso ocorresse. [6] 
 
Judge também escreveu, em um artigo publicado em janeiro de 1895:
 
“H. P. Blavatsky assinalou claramente em ‘A Chave da Teosofia’, na conclusão, que o plano é manter a S. T. [a comunidade teosófica] viva e como um corpo ativo, livre, não-sectário, durante todo o tempo de espera pelo próximo grande mensageiro, que será ela própria sem a menor dúvida.” [7]
 
Neste ponto, devemos examinar uma questão aparentemente incômoda. Por que motivo H. P. B. e W. Q. Judge fizeram estas revelações públicas sobre o próximo Mensageiro? Afinal de contas, como diz o Novo Testamento, em Mateus, 6: 2-4, “a mão esquerda [um símbolo do caminho egoísta] deve ignorar o que faz a mão direita [um símbolo do caminho altruísta]”. H. P. B. e W. Q. Judge teriam “falado em excesso”?
 
Uma resposta a esta questão tem, pelo menos, dois aspectos.
 
1) Não há motivo para acreditar que – ao fazer ou autorizar estas afirmações – os Mestres e H. P. B. revelaram ao público todo o seu plano de ação para o período entre 1875 e 2075. H. P. B. não deu detalhes da vitória da verdade sobre a falsidade que ela predisse para o século 21. A profecia sobre o novo mensageiro deve ser vista como uma indicação e ao mesmo tempo como um enigma. Devemos vê-la como um indício dado sobre eventos futuros. Ela foi publicada provavelmente para que pudesse ser interpretada, em seus diversos significados, pelas pessoas internamente capacitadas para isso.  
 
Durante a sua missão do século 19, H. P. B. estabeleceu o tom, o padrão vibratório, de toda a parte final de uma transição. Ela também espalhou por sua vasta obra escrita milhares de pequenas indicações a serem usadas por diferentes gerações de leitores e trabalhadores teosóficos.  
 
O Jesus do Novo Testamento ensinava usando parábolas que podiam ser facilmente compreendidas por todos, mas eram esotericamente interpretadas apenas por aqueles que estavam credenciados para isso (ver Mateus, 13: 13-16). 
 
A teosofia moderna não faz um uso intensivo de parábolas, mas tem a sua própria maneira de dar ao público um ensinamento que possui níveis muito diferentes de leitura. Além de usar o pensamento abstrato, a teosofia apresenta elementos espalhados e fragmentários de informação que irão emergir como um contexto para o estudante nas ocasiões e nos lugares adequados. Os aspirantes ao discipulado leigo são literalmente buscadores da verdade, conforme é explicado nas Cartas dos Mahatmas. Os teosofistas que dedicam sua vida inteira à compreensão da sabedoria divina têm condições de fazer uma investigação paciente da verdade. Isso provoca um despertar, lento e sustentável, da sua consciência espiritual – Buddhi-Manas. Deste modo eles passam a ser pioneiros da humanidade do futuro. Em determinado momento, Alfred P. Sinnett foi capaz de compreender esta técnica pedagógica, baseada no princípio da autonomia do aprendiz. O aluno deve aprender por mérito próprio, e Sinnett escreveu em seu livro “O Mundo Oculto”:
 
“Estas revelações dispersas (…..) foram quebradas e espalhadas de propósito, de modo que só fosse possível chegar a uma convicção completa (…..) depois de uma certa quantidade de trabalho empregado na tarefa de reunir as provas dispersas. Mas quando este processo é realizado, temos um certo bloco de conhecimento …..” [8] 
 
Assim, a indicação sobre “a volta da mesma alma imortal que um dia nasceu como Blavatsky” era apenas um fragmento de um plano maior e mais complexo.
 
2) Vejamos agora o segundo aspecto da resposta à pergunta sobre “por que foi dada publicidade à ideia de um segundo Mensageiro”. A verdade é que, no curto prazo – isto é, até 1975 – uma tal afirmação tinha um papel tático importante, se não decisivo, a cumprir. A revista “Theosophy”, da Loja Unida de Teosofistas, claramente sugere algo sobre isso em um artigo publicado em 1942. Depois de mencionar H. P. B., o texto afirma:
 
“… E o fato de que ela tenha escrito claramente que um outro mensageiro apareceria na última quarta parte do século vinte era uma sinalização para que os teosofistas leais não fossem enganados quanto à capacitação espiritual de qualquer um que pudesse adotar a pose de ‘novo revelador’ antes que chegasse o ciclo propício para mais investigações e para um aprendizado mais profundo.” [9]
 
Tratava-se de um instrumento para, entre outras coisas, colocar um limite no poder dos fogos de artifício da pseudoteosofia. Para que a questão da publicidade fique mais clara, devemos examinar o modo como a ideia do “próximo mensageiro” evoluiu ao longo do tempo, na vida do movimento teosófico.  
 
A sombra está condenada a correr atrás da luz. O erro só pode imitar a verdade. Annie Besant deve ter pensado que o assunto do “próximo mensageiro” era importante, porque não foi necessário muito tempo para que ela tentasse tirar proveito da oportunidade. Em 1900, tendo já abandonado os ensinamentos originais, perseguido politicamente William Judge e provocado a divisão do movimento, Besant já estava priorizando organizar e anunciar um falso renascimento de H. P. B., como filha do Sr. G. N. Chakravarti. A advertência contida na famosa carta de 1900 fez com que Besant desistisse desta fraude. 
 
Em 1904 foi o presidente-fundador Henry Olcott que teve algo a dizer sobre a esperada “volta rápida” dela em um novo corpo. Depois de descrever o “último retiro” de Damodar Mavalankar, convidado para viver nos ashrams dos Mestres nos Himalaias, Olcott especulou:
 
“Eu não sei quando ele [Damodar] voltará para nós, ou se fará isso alguma vez. Acredito que ele voltará, e eu não ficaria surpreso se ele viesse quando H. P. B. reencarnar e, como ele próprio, mudada de modo que não possa ser reconhecida, retomar o trabalho pelo mundo, que ela teve que interromper (…..).” [10]
 
Enquanto isso, Annie Besant não havia esquecido a ideia de uma “segunda vinda”. Se não era possível com H. P. B., ela podia tentar a manobra de outro modo. Pouco depois da morte de Olcott em 1907, Besant adotou como sua prioridade pessoal organizar a espetacular “reaparição” do “Senhor Cristo”.
 
O projeto transformou-se numa longa e infeliz comédia pseudocristã do “novo mensageiro”. O empreendimento teve uma dimensão “preventiva”. Apontava na direção de abortar, dificultar ou impedir a aparição de um real mensageiro no movimento. Assim confirmou-se a severa advertência feita por William Judge em 1894. Os fogos de artifícios messiânicos só pararam, pelo menos exteriormente, quando o próprio pseudo-Cristo, Jiddu Krishnamurti, abandonou a Sra. Besant deixando de lado a sua “igreja católica liberal” e a sua Sociedade de Adyar, em 1929. Àquela altura, a paródia adventista e neocatólica de Besant já havia causado um dano grave para a Sociedade de Adyar. [11]
 
A vida encontra soluções para cada problema. Pelo próprio fato de que está condenada a imitar a luz, a sombra providencia no tempo certo a sua própria derrota. As versões falsificadas do movimento teosófico são apenas a casca espiritualmente morta que rodeia o organismo vivo, autêntico, ético e verdadeiro.
 
Ao longo de toda a parte difícil do século, estudantes independentes preservaram um núcleo pequeno, ativo, de fraternidade universal com visão lúcida. Esse fato inspirou silenciosamente indivíduos ao redor do mundo, levando-os a seguirem as linhas originais de trabalho teosófico. O conhecimento da lei dos ciclos, com suas marés cármicas, oferecia uma linha de inspiração aos teosofistas que olhavam para o futuro. Década após década, a expectativa sobre 1975 foi preservada e parecia crescer. Um novo portador da luz espiritual iria possivelmente aparecer na última quarta parte do século; e ele poderia levar o movimento para um novo patamar de progresso e de compreensão.
 
Quando 1975 finalmente chegou, vastos setores do movimento teosófico pareciam tomados por um sentimento de entusiasmo.
 
Livretos e revistas sobre H. P. B. e novas edições das suas obras se multiplicaram. Numerosas iniciativas e realizações importantes ocorreram, não só dentro do movimento, mas também no mundo em geral, em vários campos da ciência, em filosofia, na área dos direitos humanos, da democracia e da justiça social. A Guerra Fria terminou. O diálogo inter-religioso ficou mais forte. Em todo o planeta, a consciência ecológica espalhou-se e estimulou uma percepção da unidade interior que abraça a todos os seres. Havia uma expectativa no ar. Em maio de 1991 a revista internacional da Sociedade de Adyar trazia, em edição especial dedicada a Blavatsky, estas palavras de Manly P. Hall:
 
“Imagine o que ocorreria se hoje mesmo H. P. Blavatsky, a leoa da Sociedade Teosófica, retornasse do refúgio secreto dos sábios e exigisse uma prestação de contas dos membros da Sociedade que ela fundou. Quem se ergueria na presença dela e diria honestamente, ‘Mestra amada, nós fizemos o melhor que nos foi possível; nós permanecemos fiéis a você e aos Mestres em cujo nome você falou’ ?” [12]
 
Seria uma pergunta embaraçosa para alguns.
 
Mas o tempo passava e a volta espetacular não havia acontecido. A nova onda de vitalidade teosófica permaneceu visível até a primeira metade dos anos 1990. Depois disso a vida do movimento começou a perder força, como em uma maré vazante, e em torno do ano 2000 alguns teosofistas sentiram uma sensação de vazio. Deste ponto em diante, os aspectos negativos do carma coletivo emergiram rapidamente, dentro e fora do movimento teosófico. Em 2001, os ataques terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos serviram para simbolizar a mudança dos ventos cármicos. À medida que nos aproximávamos de uma mudança de proporções planetárias, a nuvem de carma que pairava sobre certos setores do movimento ficava mais espessa, irradiando desânimo para os estudantes sinceros e uma onda de cobiça por poder pessoal, para os inescrupulosos. 
 
As dificuldades são inevitáveis em qualquer começo de século. No entanto, ainda é possível ter um par de surpresas antes de 2075. Nem tudo foi dito sobre ciclos cármicos. Outros círculos de tempo, maiores, convivem com o pequeno ciclo de cem anos, e se superpõem a ele.
 
É bem sabido o fato de que a missão de H. P. B. incluía preparar o fechamento, em 1897-1898, dos primeiros cinco mil anos desde a morte de Krishna, ocorrida em 3.102 antes da era cristã. O fato assinalou o início do Kali Yuga, a idade de ferro.
 
Em agosto de 1931, um artigo na revista “Theosophy”, da Loja Unida de Teosofistas, chamou atenção para o momento em que o senhor Buddha viveu. Ele nasceu no ano de 621 antes da era cristã, isto é, cerca de 2.500 anos depois da morte de Krishna e cerca de 2.500 anos antes da morte de H.P. Blavatsky. Ele nasceu no meio, no centro, do ciclo dos 5.000 anos iniciais de Kali Yuga.  Pitágoras e Lao-tzu foram aproximadamente contemporâneos de Buddha e deram uma força adicional àquele ponto decisivo na História, tanto no Oriente como no Ocidente. Os mestres de H. P. B., corresponsáveis pela missão dela, são discípulos da consciência de Buddha.
 
Assim, a culminação do trabalho de H. P. B. em 1891 fechou dois ciclos, sendo um de 2.500 anos e outro de 5.000 anos, e teve um forte impacto tanto sobre o Oriente como sobre o Ocidente.
 
Devido ao princípio da superposição ou convívio de ciclos diferentes durante os períodos de transição, as datas e números nem sempre são precisos, quando observados do ponto de vista aritmético. Pensava-se, por exemplo, que H. P. B. viveria até 1897; mas não houve  uma necessidade imperiosa disso, e ela não viveu.
 
Entre outros pontos, o artigo de 1931 na revista “Theosophy” afirma que, devido aos ciclos maiores cuja conclusão coincidia com a missão de H. P. B.,  “é relativamente absurdo dizer que o final do século 19 correspondeu ao final de uma missão centenária normal.” 
 
E o artigo prossegue:
 
“Mas é muito provável que em 1975 uma missão maior seja realizada; e que o novo Mensageiro tenha condições de demonstrar, além de ensinar – caso os teosofistas que atuem até lá sejam leais à confiança depositada neles. No entanto, a tradição diz que Buddha reencarnou cinquenta anos após sua morte com o objetivo de completar a sua missão. O Sr. Judge julgou que era adequado fazer uma afirmação forte, e disse que o Mensageiro de 1975 seria o mesmo Iniciado de 1875.”[13]
 
Esta afirmação de “Theosophy” só poderia fazer sentido se houvesse outros ciclos maiores relacionados ao período entre 1975 e 2000, que aumentariam a sua importância. E eles existem. 
 
Usando uma linguagem obscura e indireta, em uma modesta nota ao pé de página em um artigo, H. P. B. indicou as datas e a duração das eras astrológicas recentes, e revelou que o ano de 1900 era o momento inaugural da nova Era de Aquário. Ela escreveu que “um dos vários ciclos notáveis” que terminavam no final do século 19 era “o ciclo Messiânico (…..) do homem conectado com Peixes”.
 
E H. P. B. acrescentou:
 
“É um ciclo histórico não muito longo, mas muito oculto, que dura cerca de 2.155 anos solares (…..). Ele ocorreu em 2.410 e 255 antes da era cristã, ou quando o equinócio entrou no signo de Áries, e novamente no signo de Peixes. Quando o equinócio entrar, dentro de alguns anos, no signo de Aquário, os psicólogos terão uma quantidade extra de trabalho por fazer….” [14]
 
Geoffrey Barborka esclareceu esta declaração:
 
“Já que 2.155 anos são o período da duração de cada um dos ciclos das eras de Áries e Peixes, e como a era de Peixes começou em 255 antes da era cristã, a data do começo da era de Aquário é o ano de 1900, na era cristã.” [15]
 
H. P. Blavatsky deu mais evidências a respeito ao escrever, em 1888:
 
“O tempo deu mais um passo decisivo: um passo de doze meses de duração em direção ao último dia da nossa era atual; (…..) – a última fronteira do nosso velho século. Dentro de mais doze anos, a cortina descerá, desligando as luzes que há sobre os atores e tirando estes da vista do público …….  Só então mais de uma cena do triste drama da vida, e muitas atitudes até aqui incompreendidas de alguns dos principais personagens do Mistério das Eras chamado Teosofia e suas sociedades, irão aparecer tal como são.” [16]
 
Ao escrever em 1888 referindo-se a “doze anos”, H. P. Blavatsky estava claramente assinalando o ano de 1900 como o limite entre as duas eras.
 
No entanto, a fronteira cronológica precisa é um ponto matemático abstrato. A superposição parcial entre eras sucessivas é uma lei. Diferentes idades vivem juntas lado a lado durante um tempo significativo. Para a filosofia esotérica, a transição de eras astrológicas é um processo complexo, e os seus efeitos demoram alguns séculos para tornar-se claramente visíveis. Está dito em “A Doutrina Secreta” que cada yuga é precedido por um período de “amanhecer” chamado de Sandhya, que tem um décimo da duração da era. E o ciclo também é concluído por um período de escurecimento gradual, chamado de Sandhyamsa, cuja duração é a mesma do período de amanhecer. [17]
 
Se seguirmos a lei da analogia, esta informação poderá dar-nos a medida do principal período de superposição entre duas eras sucessivas menores, cada uma com 2.155 anos.
 
Temos, assim, um período de anoitecer ou Sandhyamsa para a era de Peixes que é de 215 anos, e um alvorecer ou Sandhya para a era de Aquário que é também de 215 anos.
 
Como não há pralayas ou obscurecimentos (períodos de descanso da vida) em ciclos tão pequenos como os de 2.155 anos, o mesmo período que é anoitecer para Peixes pode ser visto como o alvorecer de Aquário. Algo semelhante ocorre na relação entre um avô e um neto, que convivem entre si durante algum tempo, embora pertençam a épocas basicamente diferentes.   
 
Se a nova era começou no ano de 1900, como H. P. B. afirma, este deve ser o ponto médio, o ponto matemático de mutação, no processo de anoitecer e amanhecer. Neste caso devemos dividir os 215 anos em dois períodos de aproximadamente 107 anos e meio, e colocar um deles antes do ano de 1900. A outra metade deve ser projetada para o período posterior a 1900. [18]
 
Retrocedendo 107 anos e meio a partir de setembro de 1900, encontramos o ano de 1793. É a época da Revolução Francesa (1789-1793), que havia sido preparada, em parte, pela Revolução Norte-Americana de 1776. Em todo o mundo, o colonialismo começou a cair. Foi a época do surgimento da luta pelos direitos humanos, pela liberdade de pensamento e pela fraternidade universal; e estes valores são tão teosóficos quanto aquarianos. Este foi o ponto inaugural da transição de 215 anos.
 
De outro lado, quando acrescentamos 107 anos e meio a setembro de 1900, encontramos 2008, um momento em torno do qual vários, talvez sete, níveis de mudanças sem precedentes podem ter começado.
 
Além de ter presentes os conceitos de sandhyamsa (anoitecer) e sandhya (alvorecer), devemos lembrar que um dos ciclos ocultos mencionados nas Cartas dos Mahatmas é precisamente o de 107 anos. [19] Esta é a metade da transição no caso da era de 2.155 anos. Tal informação confirma que “algo importante” deve haver terminado definitivamente entre 2007 e 2008, mesmo que nem todos possam vê-lo agora. É provavelmente o final de todo o período de transição de 215 anos entre uma era e a outra.
 
Há algo que acrescenta mais força à ideia de que desde 2008 o anoitecer-alvorecer está completo. Mais ou menos ao mesmo tempo, tivemos no céu o corregente de Peixes, Netuno, lentamente transitando pelo signo de Aquário, enquanto o corregente de Aquário, Urano, visitava o signo de Peixes.
 
Este evento simétrico é um símbolo perfeito da troca de comando: o cetro do poder estava mudando de mãos no céu.
 
A partir de 2012, Netuno, tendo completado sua missão de 2.155 anos, “volta para casa” e se recolhe durante algum tempo em seu próprio signo, Peixes. Conclui assim também o seu “ciclo menor” de peregrinação em torno da Terra. Ao mesmo tempo, seu irmão Urano, corregente de Aquário, transita pelo pioneiro e renovador signo de Áries, iniciando vigorosamente a sua primeira ronda pelo Zodíaco terrestre depois que a troca de comando terminou de abrir a era de Aquário.
 
Netuno e Urano são considerados “embaixadores da galáxia”, e H. P. B. escreveu que Netuno não pertence realmente ao nosso sistema solar. (“A Doutrina Secreta”, edição passo a passo em nossos websites associados, pp. 134-136; ou “The Secret Doctrine”, Theosophy Co., Vol. I, p. 102, nota de pé de página.)
 
Ela também disse que Netuno e Urano são considerados guerreiros e arquitetos. É possível que ao aderir ao sistema solar com o seu “peso” e magnetismo eles tenham concluído a sintonia fina do seu equilíbrio dinâmico. (“A Doutrina Secreta”, edição passo a passo, pp. 133-136).
 
Do ponto de vista matemático e astronômico, as órbitas destes dois planetas não estão apenas estreitamente ligadas entre si. Elas estão intimamente ligadas também à órbita de Plutão, outro “embaixador”, um pequeno planeta revolucionário que desde 2008 traz grandes mudanças estruturais (Plutão em trânsito por Capricórnio, o signo das estruturas).
 
Há também a questão do período de 70 anos. H. P. B. disse que cada ciclo deve ser um múltiplo de sete. (“A Doutrina Secreta”, edição passo a passo em nossos websites, pp. 72-74; ou “The Secret Doctrine”, Vol. I, p. 36.)
 
Tsong-kha-pa começou os esforços centenários no século 14, e agora estamos no século 21. Os dois números são múltiplos de sete.   
 
H. P. B. acrescenta que o número sete é o grande número dos Mistérios Divinos, enquanto que “o número 10 é o número de todo o conhecimento humano (a década pitagórica)”. Assim, o número setenta – uma combinação de sete com dez e um múltiplo de sete – deve ser um número significativo.
 
Em 1875 começou o esforço público pela fraternidade universal, e setenta anos depois chegamos a 1945, o ano em que, precisamente no dia oito de maio (aniversário da morte de H. P. B.), as democracias declararam que a guerra havia sido vencida na Europa, e começaram a preparar a Organização das Nações Unidas. A sede das Nações Unidas foi estabelecida em Nova Iorque, a mesma cidade em que o movimento teosófico havia sido fundado 70 anos antes.
 
Se acrescentarmos outros setenta anos a 1945, encontramos o ano de 2015, quando a “troca de comando” entre Netuno e Urano não só está completa desde 2012, mas produzindo efeitos.
 
Há um tom de cautela, no entanto, a acrescentar à profecia de H. P. B. segundo a qual a verdadeira ética terá uma vitória final antes que o século 21 termine. Ela também comentou que o século 20 poderia ser, talvez, “o último a ser chamado por este nome”. [20] 
 
Esta advertência implica que, dependendo de como a situação evolua, poderemos viver uma mudança tão radical em nossa civilização que uma nova maneira de contar o tempo seja adotada durante o século 21. Isso, no entanto, é um indício e uma possibilidade. O princípio da superposição de eras sucessivas faz com que diferentes possibilidades cármicas permaneçam abertas, lado a lado, por algum tempo durante o encontro gradual de duas Eras.
 
O que devemos pensar, neste contexto, do fato de que um grande mensageiro não surgiu de modo visível durante o tempo em que era esperado? Talvez haja nisso uma lição sobre expectativas antropomórficas. Toda a filosofia de H. P. B. foi construída sobre o princípio da impessoalidade. Ela aponta para a necessidade de transcender a consciência instintiva dos rebanhos, aquele estado de consciência que convida as pessoas a procurarem por um pastor, e a segui-lo automaticamente.
 
A Teosofia capacita os estudantes para encontrarem inspiração em seus próprios eus superiores. Esta ideia fundamental – a verdadeira base da fraternidade consciente – continua sendo um grande teste para o movimento teosófico e esotérico em geral.
 
A filosofia de H. P. B. é o ensinamento dos Mestres para a nova Era. Como um princípio orientador de almas espirituais, a filosofia esotérica moderna não é apenas um presente generoso: ela é também mais do que suficiente. Qual o modo correto de estar em unidade espiritual com H. P. B.? Ele inclui a capacidade de aprender com o exemplo dado por ela, e de tirar lições do sacrifício de gerações incontáveis de pioneiros, enquanto nos esforçamos com calma e bom senso buscando o bem de todos os seres.
 
NOTAS:
 
[1] Arhats: termo budista. São altos iniciados, proficientes na sabedoria planetária. Estão livres da necessidade de reencarnar, mas permanecem com a humanidade por um voto solidário de ajudá-la em sua marcha evolutiva. Também são chamados de Imortais pelo taoísmo, e de Raja-Iogues na Índia.
 
[2] “Collected Writings” de H.P.Blavatsky, TPH, Adyar,  volume XIV, p. 431. (Dados biográficos sobre Tsong-kha-pa podem ser encontrados em “Collected Writings” de H P. Blavatsky, TPH, volume XIV, pp. 573-575.)
 
[3] O sétimo esforço conclui um ciclo 700 anos, que corresponde precisamente à terceira e última terça parte da era de Peixes. O período de 700 anos é um dos ciclos ocultos mencionados nas “Cartas dos Mahatmas” (volume I, Carta 48, p. 221). É importante registrar também que o esforço centenário inaugural incluiu as primeiras décadas do século seguinte, já que Tsong-kha-pa viveu até 1419. Como o número sete fecha o ciclo aberto pelo número um, isso pode significar que há um “efeito de prorrogação” no sétimo esforço de final de século, que foi realizado, segundo o ponto de vista convencional, em 1975-2000. O sétimo, por sintetizar os anteriores, pode durar até a primeira parte do século seguinte, assim como ocorreu com o primeiro esforço.
 
[4] Estas são, precisamente, as palavras de H.P.B.:
 
“O Erro é poderoso só na superfície, porque ele é proibido pela lei da natureza de tornar-se mais profundo (….). E, seja por fenômenos ou milagres, e seja com, ou contra, bispos e espíritas, o Ocultismo [Teosofia] irá vencer a batalha antes que a era atual complete o triplo setenário de Sani (Saturno) no ciclo Ocidental na Europa; em outras palavras –  antes do final do século 21 da chamada ‘era cristã’.” (“Collected Writings” de HPB,  TPH, Índia, volume XIV, p. 27.)
 
[5] “A Doutrina Secreta”, edição passo a passo em nossos websites associados, pp. 31-33; ou “The Secret Doctrine”, Helena P. Blavatsky, Theosophy Company, Los Angeles, volume I, p. XXXVIII.
 
[6] Veja o volume “The Judge Case”, de Ernest Pelletier, publicado pela Edmonton Theosophical Society, Canada, 2004, Part II, p. 135.
 
[7] “The Closing Cycle”, artigo de W. Q. Judge. Ver “Theosophical Articles”, W.Q. Judge, Theosophy Company, 1980, volume II, p. 153.
 
[8] “O Mundo Oculto”, Alfred P. Sinnett, Ed. Teosófica, Brasília, 2000, 232 pp., ver p. 227.
 
[9] “The Centenary Cycle” (“O Ciclo de Cem Anos”), artigo publicado na revista “Theosophy”, de Los Angeles, em Abril de 1942. Ver p. 267. O artigo não tem indicação de nome de autor mas quase seguramente foi escrito por John Garrigues, um dos fundadores da Loja Unida de Teosofistas, em 1909.
 
[10] “Old Diary Leaves”, Henry S. Olcott. T.P.H., Adyar, Índia, volume III, primeira edição, 1904, 460 pp., edição de 1972, p. 279.
 
[11] Veja o texto “Fabricando um Avatar”, de Carlos Cardoso Aveline, que pode ser encontrado em nossos websites associados. A versão inicial do artigo, “The Making of an Avatar”, foi publicada na revista FOHAT, do Canadá, no Outono de 2007 (hemisfério norte), pp. 64-68. O texto em inglês também está disponível nos websites associados.
 
[12] “The Theosophist”, Adyar, Índia, Edição Especial em homenagem a H.P.B.,  maio de 1991, p. 404. 
 
[13] “The Hundred Year Cycle”, artigo publicado sem nome de autor. Ver a revista “Theosophy”, de Los Angeles, edição de agosto de 1931, p. 451. Pesquisas sobre a história da Loja Unida de Teosofistas indicam que o artigo foi escrito por John Garrigues.
 
[14] “Collected Writings” de H.P. Blavatsky, TPH, Índia, volume VIII, p. 174, nota de pé de página.
 
[15] “Secret Doctrine Questions & Answers”, de Geoffrey Barborka, Wizards Bookshelf, San Diego, USA, 2003, 197 pp., ver p. 100. 
 
[16] “Reflexões de Uma Filósofa Impopular”, de H.P.B., artigo disponível em nossos websites associados.
 
[17] “The Secret Doctrine”, H.P.B., Theosophy Co., Los Angeles, volume II, p. 308, nota de rodapé.
 
[18] O raciocínio permanece válido caso se queira atribuir 215 anos ao anoitecer e outros 215 anos ao amanhecer. Neste caso, considera-se uma transição mais longa. O período de aproximadamente 107 anos e meio corresponderá então à metade mais significativa da transição de 215 anos, tanto antes como depois do ano central de 1900.
 
[19] Veja a Carta 48  em “Cartas dos Mahatmas” (Ed. Teosófica, Brasília, volume I, p. 221). Em inglês, “The Mahatma Letters to A. P. Sinnett”, edição da T.U.P., Pasadena, EUA, Carta  XLVII (47), p. 272.  A edição da T.U.P. não é por ordem cronológica.
 
[20] Veja a última frase na parte III do texto de H. P. B. “The Esoteric Character of the Gospels”. A frase pode ser encontrada no Vol. VIII, p. 205, de “Collected Writings” de HPB (TPH), ou na página 193, volume III, de “Theosophical Articles”, H.P.B., Theosophy Co., Los Angeles.    
 
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O texto acima foi liberado para publicação em português  no dia 9 de janeiro de 2012 e atualizado em 5 de novembro de 2015.
 
Para ler mais sobre diferentes aspectos da missão de longo prazo de Helena Blavatsky, veja os textos “Fabricando um Avatar”, “O Mistério de Alessandro Cagliostro”, e “Helena Blavatsky – A Que Distância?”.
 
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Sobre a missão do movimento teosófico, que envolve o despertar da humanidade para a vivência da fraternidade universal, veja o livro “The Fire and Light of Theosophical Literature”, de Carlos Cardoso Aveline.
 
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A obra tem 255 páginas e foi publicada em outubro de  2013 por “The Aquarian Theosophist”.
 
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